Por Drª Marcela Medeiros – Advogada internacional, estrategista patrimonial e premiada por sua atuação em causas de impacto para a comunidade brasileira nos EUA.
Quando falamos em imigração, poucos percebem que, na base da pirâmide de esforço e reinvenção, estão as mulheres. Mais especificamente, as mulheres brasileiras que cruzam fronteiras físicas e simbólicas em busca de algo maior do que um novo país: buscam autonomia, proteção e protagonismo.
Segundo dados do Migration Policy Institute (2023), mais de 460 mil brasileiras vivem atualmente nos Estados Unidos. Destas, uma parcela crescente tem deixado para trás os empregos de baixa remuneração e informalidade para trilhar o caminho do empreendedorismo e da liderança. Em 2021, o National Women’s Business Council já registrava um aumento de 18% no número de empresas abertas por mulheres imigrantes na última década, e um estudo da Kauffman Foundation indicou que mulheres estrangeiras têm 80% mais chances de abrir um negócio nos EUA do que as nascidas aqui.
Essas estatísticas refletem o que vejo diariamente na minha prática como advogada internacional: brasileiras que recomeçam com medo, mas avançam com fé e estratégia.
Mulheres que, muitas vezes sozinhas, criam estruturas empresariais (LLCs, S-corps), fazem planejamento tributário, protegem seus bens com trusts, e constroem pontes jurídicas sólidas para garantir futuro para seus filhos e legado para suas famílias.
Por que isso importa?
Porque representatividade e estrutura legal caminham juntas. Sem acesso ao conhecimento correto e à orientação adequada, muitas mulheres seguem presas em ciclos de instabilidade — mesmo já tendo a força e o talento necessários para crescer. A ausência de planejamento jurídico adequado pode custar a essas mulheres não apenas dinheiro, mas também segurança, residência legal e paz mental.
A liderança feminina internacional começa no momento em que uma mulher entende que sua história, sua voz e seus recursos têm valor — e que merecem ser protegidos. Essa liderança não é apenas sobre ocupar espaços de poder no mercado — é sobre ser autora da própria jornada, com respaldo legal, planejamento financeiro e um senso claro de missão.
Minha missão: dar forma jurídica à coragem feminina
Nos últimos anos, atendi brasileiras que vieram aos Estados Unidos fugindo de violência doméstica, perseguição política ou pobreza extrema. Mulheres que chegaram com o mínimo e hoje possuem empresas estruturadas, vistos aprovados, propriedades em seus nomes e filhos matriculados em boas escolas. A maioria delas tinha algo em comum: não sabiam que isso era possível até alguém mostrar o caminho.
Por isso, neste evento que celebra o impacto da comunidade brasileira nos EUA, recebo este prêmio com um profundo senso de responsabilidade. Ele não é apenas meu. É das milhares de brasileiras que, diariamente, vencem o medo com decisões firmes, constroem em silêncio e estão, pouco a pouco, ocupando seu lugar na história da nossa diáspora com dignidade e inteligência estratégica.
Para concluir:
Mulheres brasileiras estão sim ocupando espaços de liderança internacional. Mas não da forma tradicional. Elas lideram empresas familiares, fundam negócios resilientes, influenciam comunidades inteiras e tomam decisões que moldam o futuro de gerações. E fazem isso com pouco — mas quando bem orientadas, transformam esse pouco em legado.
Nos Estados Unidos, ser mulher e ser imigrante não é uma limitação — é uma combinação de força e visão quando se tem estrutura certa.
E meu papel é garantir que essa estrutura exista.
